sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre o perdão

Acordei hoje com essa palavra me martelando as ideias: perdão. Pensei em buscar a origem da palavra e tecer teorias sobre o assunto, mas todo mundo sabe que eu não sou assim. Então resolvi falar do perdão do meu jeito mesmo, do meu jeitão.
A minha avó, a mãe que tanto amei, foi uma das pessoas mais rancorosas que eu conheci na vida. Ficou quase 30 anos sem falar com um irmão, irmão que ela amava, tudo isso por se negar a perdoar. A reconciliação dos dois foi uma das coisas mais bonitas que eu já pude presenciar na minha vida toda. Mas o que me encafifou foi o fato de ter demorado tanto pra eles se perdoarem. Por que tanto tempo se privando um das risadas do outro, das histórias, das lembranças? Seguindo o exemplo da mãe, minha tia Inês é outra mestre na arte do rancor. Daquelas que atravessam a rua pra não ter que passar perto de quem ela não gosta, que prende a respiração pra não ter que dividir o mesmo ar com um desafeto. Pra quê?
Daí eu vim pra São Paulo. Na cidade grande e fria, percebi que muitas pessoas mal se falavam. Não tinha muitos amigos de verdade até que, por obra do acaso, me inseri num grupo de pessoas que me enchiam de orgulho. Era uma família unida, coisa que eu nunca havia tido. Estávamos sempre juntos pro que desse e viesse. Mas nem tudo é perfeito. Começaram a surgir coisas que foram tornando a convivência de todo o grupo menos agradável. Não sei se chamo de inveja, oportunismo, ego. Eu só sei que conseguiram fazer algo que eu achava até então impossível. Enfraqueceram o elo que unia o grupo. Se formaram grupos paralelos, os defeitos de todos começaram a superar as qualidades, havia discussões e brigas quase que semanais. E com o desgaste, o elo se rompeu. Não conseguiu mais suportar unir a todos com o peso que essas coisas traziam.
Hoje, eu que transito entre esses mundos que se formaram paralelamente, por alguns deles, fico me perguntando o que levou a essa situação. O que teria sido mais forte que uma amizade de anos a fio, que uma confiança extrema adquirida. O que seria tão ruim que pudesse ter causado essa ruptura tão brusca e cheia de tristeza. Porque me lembro muito bem que o elo me dizia sentir muita tristeza. E a dor que via em seus olhos aperta aqui o meu peito enquanto eu estou escrevendo isso. Essa dor e essa tristeza, fez com que o amor se afastasse, a desconfiança e a insegurança ganhassem força e essa família hoje está tão enfraquecia que eu não sei mais se é uma família.
Penso porém que ainda há uma chance. Acredito em ver todos reunidos celebrando a felicidade. O que precisa é a oportunidade de haver um perdão, um perdão sincero. Sem conversas que busquem achar um culpado, ou uma razão pra que as coisas acontecessem.
Essa semana mesmo, me senti leve por perdoar a minha mãe. Que me feriu  muito com uma escolha que fez pesando em sua felicidade. Mas com a Tia Vera eu aprendi uma coisa. Ela disse no velório da nossa Gabi que antes de virmos a esse mundo, escolhemos tudo pelo que vamos passar. Ao ouvir isso eu pensei e decidi perdoar minha mãe. Liguei pra ela na semana seguinte, porque perdoar não acontece de uma hora pra outra, num estalo, e conversei com ela. Não mencionamos sequer a palavra perdão ou reconciliação, mas pelo tom da conversa eu senti o perdão aceito. A voz mansa e o riso fácil vieram logo após o alô.
Isso que eu espero dos que estão à minha volta. Que aceitem as coisas que aconteceram e não levem isso adiante. Perdoem uns aos outros e vivam o que tem que ser vivido juntos, sentindo o apoio e o amor enquanto podemos estar juntos. Porque se for esperar, pode ser que a hora certa não chegue. E aí, vai restar pedir perdão a Deus, mas não acho que isso adiante muito, porque Deus não foi quem ficou magoado nessa história.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre a Gabi...

_ Oi, tudo bem? Eu sou o Charlie Liu.
_ Oi, prazer! Eu sou a Gabinacozinha!
_ Gente, mas eu jurava pelo seu avatar que voce era loira!
_ HAHAHAHAH! Nunca fui, tava ruiva no avatar! Não é por causa do chapéu de chef?
_ Deve ser... HAHAHAHAH!
Foram essas as primeras palavras que me lembro de ter trocado com Gabi no dia em que a conheci, junto com o Tiul e a Kaikaa e o Gabbones. De uma vez só entratam três pessoas muito queridas na minha vida. Mas eu não sei se pela proximidade geográfica ou pela mineirice, a Gabi foi a que mais se aproximou de mim.
Com sua amizade, vieram muitos ensinamentos. Com ela aprendi a rir nos momentos difíceis, a falar das coisas duras da vida com leveza e a poder desabafar com os amigos sem vergonha na hora da necessidade. Gabi nunca deixou de ouvir quem precisasse de seu ouvido generoso, pois sabia que cada um tinha seus problemas e assim como recebia a ajuda e o carinho com extrema humildade, também distribuía sorrisos, afagos e palavras de conforto.
No tempo que fiquei longe, nunca deixou de querer saber como eu estava. Quando retornei, me recebeu com um abraço apertado, no qual eu me empolguei e quase quebrei suas costelas. Não tinha como não exagerar no amor estando perto dela.
Neste último ano, nossa Gabi enfrentou sua mais dura batalha e, contrariando as estatísticas, conseguiu ficar entre nós por tempo suficiente pra nos dar mais lições de bravura, serenidade e sobretudo lições de amor! Por ela nos desapegamos da vaidade, raspamos nossos cabelos, formamos uma família enorme. Gabi e as pretinhas, sempre juntas.
Com o humor e a simplicidade que sempre foram, pra mim ao menos, sua marca registrada, ela se despediu de nós:
"(...) fiz até xixi (...)"
Amanhã faria mais uma cirurgia, mas nosso Pai resolveu levá-la consigo antes de passar por mais um sofrimento. Hoje à noite, quando chegasse em casa, eu ia gravar essa música e mandar pra ela num videozinho, pra que ela pudesse ver e saber que eu estaria com ela nesse momento difícil... Não deu tempo, Gabizinha...
Meu passarinho, sou seu sabiá... Não importa onde for, vou te catar, te vou cantar.. Te vou, te vou, te vou...
Pra você ouvir, minha linda, pede o notebook do Papai do Céu emprestado:

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sobre a inconstância


A gente acorda sem saber o que esperar do dia. A gente abre a torneira sem saber a temperatura da água. A gente liga o chuveiro sem saber o quanto ele vai demorar pra esquentar, nem se a água vai se manter quente até o fim do banho. Depois, no ponto do ônibus não há a certeza de quanto vai demorar pro ônibus passar e nem quanto tempo você vai demorar pra chegar ao destino. Nada na vida é certo, nada pode ser programado com perfeição. Assim também são as pessoas, não se pode prever as variações de humor, não se pode ler o que se passa nas mentes. 
Com o tempo, alguns aprendem a ler alguns sinais, a ter tato, mas ainda assim há o dia em que vamos errar e fazer algo inesperado. Assim a gente aprende também a não esperar sempre as mesmas atitudes, a mesma compreensão, o mesmo afeto, as mesmas palavras. Há dias e dias. Haverá vezes em que os abraços esperados não virão, que os apertos de mão não vão ser tão intensos quanto de costume, que as palavras não virão com a mesma doçura. 
Mas há dias também em que tudo vai parecer dar certo. A água sairá da torneira com a temperatura agradável, o banho será quentinho e confortante e o ônibus vai chegar no ponto junto com você, que vai conseguir chegar no trabalho na hora certa. Vai ser nesse dia que aquela pessoa vai te dizer as palavras que você esperava ouvir e você vai saber que valeu a pena ter passado por todas as incertezas da vida sem perder as esperanças.